quarta-feira, 31 de março de 2010

Biocombustível fortalece o Brasil com os africanos

Os crescentes investimentos em projetos para biocombustíveis nos países africanos ampliam as oportunidades de negócios em máquinas e implementos agrícolas nos próximos anos. As pesquisas em energias alternativas estão concentradas principalmente nos países que não produzem petróleo, onde ganharam importância diante da necessidade de alternativas para diversificação da economia. O maior volume dos estudos está concentrado no Oeste africano, que possui boa renda per capita e o clima é similar ao brasileiro, fazendo a cana-de-açúcar e o óleo de palma garantirem lugar de destaque.


No total, são 29 projetos de biocombustíveis e biomassa em andamento em 10 países, conforme levantamento realizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Para o Brasil, a janela surge no momento em que se busca a consolidação do etanol como commodity internacional. Para galgar esse patamar, um dos requisitos apontados por especialistas é a difusão da tecnologia e produção para outros países. Dessa maneira, o Brasil se consolidaria como referência mundial em fornecimento de equipamentos para o etanol de cana.

Rodrigo Azeredo, do Ministério de Relações Exteriores (MRE), explicou que linhas de financiamento para exportações estão em estudo para viabilizar negócios com outros países. "Já temos um modelo bem sucedido com Gana e queremos aplicá-lo em outros países". Conforme disse, esse modelo utiliza o petróleo do país como garantia para formalizar finaneciamentos dos produtos brasileiros com prazo de pagamento superior a dois anos.

A busca por energias alternativas na África passou a ganhar espaço em 2006, quando foi criada a Associação Pan-Africana dos Países Não-Produtores de Petróleo (APNPP) ou "OPEP Verde". Atualmente a associação conta com 15 países membros.

O embaixador do Senegal no Brasil, Fode Seck, destacou a importância de fortalecer o fluxo entre ambos. Porém, reclamou do desinteresse dos empresários brasileiros pelos países que não possuem o português como idioma. "A tecnologia brasileira é mais adequada à África. No entanto, não vemos muitos (empresários brasileiros) interessados". Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em 2008, o continente africano foi o quinto maior comprador do Brasil, gerando US$ 10,1 bilhões em divisas. No mesmo período, a região consumiu 65% de produtos manufaturados.

"Nosso objetivo é aumentar as vendas em cerca de 45% nos países do bloco africano neste ano", disse Michael Steenmeijer, gerente comercial da BRN, fabricante e exportadora de carregadores para cana-de-açúcar. Ele observa que a região possui grande potencial de desenvolvimento porque possui baixo nível de tecnologia. "Por esse motivo queremos ganhar espaço com a implantação de produtos específicos nem cada país, que ainda colhem manualmente". Para isso, a companhia, que exporta a mais de 14 anos para a África, deve lançar uma moto-cana que facilita a colheita.

As perspectivas também são positivas para Luiz Guilherme Bueno, da Emit Brasil, companhia exportadora especializada no comércio de máquinas de maior porte, como tratores e colheitadeiras. "São economias em ascensão e muito promissoras. Esse fluxo comercial cresce a taxas de 30% anualmente" destacou. Segundo informou, a empresa atua há seis ano a expectativa é movimentar US$ 4 milhões nas transações comerciais com africanos em 2009.

"O mercado africano é o maior consumidor depois da américa latina", revela Mauri Fernandes, gerente de vendas para América Latina da New Holland. Eduardo Cordeiro, responsável pelas vendas para África da empresa acrescenta que os tratores lideram os embarques, que estão em expansão.

"O Brasil é uma potência agrícola e não podemos desperdiçar essa fase de desenvolvimento agrícola por lá", enfatizou José Mauro Couto, assessor para assuntos internacionais do MDIC. Para ele, também se trata de uma grande oportunidade para fortalecer o etanol como commoditie. "Os mercados não tradicionais são os que possuem maior potencial de expansão", afirmou.

Roberto Tenório

FONTE: GAZETA MERCANTIL

Publicado em: 03/04/2009

Site ABIN - http://www.abin.gov.br/modules/articles/article.php?id=4165

sexta-feira, 26 de março de 2010

Custos dos biocombustíveis

Estudo feito nos EUA compara impactos econômicos de biocombustíveis para a saúde e meio ambiente: custo do etanol de milho pode ser até duas vezes maior que o da gasolina

Créditos: DivulgaçãoUm estudo feito nos Estados Unidos destaca que substituir a gasolina ou o etanol de milho por etanol celulósico pode ser ainda melhor do que se imaginava para a saúde e o meio ambiente. A pesquisa será publicada no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

A pesquisa indica que o etanol celulósico tem menos efeitos negativos sobre a saúde humana por emitir menores quantidades de matéria fina particulada – um componente especialmente danoso da poluição atmosférica. Um estudo anterior havia mostrado que o etanol celulósico e outros biocombustíveis de última geração emitem também níveis mais baixos de gases de efeito estufa.

"Nosso trabalho destaca a necessidade de expandir o debate dos biocombustíveis para além das mudanças climáticas, a fim de incluir uma gama maior de efeito, como seus impactos na qualidade do ar", disse o autor principal do estudo, Jason Hill, professor do Instituto do Meio Ambiente da Universidade de Minnesota.

O estudo avalia o custo econômico do etanol celulósico, etanol de milho e gasolina para o meio ambiente e a saúde humana. Os cientistas concluíram que, dependendo dos materiais e tecnologias utilizados na produção, os custos do etanol celulósico para o meio ambiente e a saúde não chegam à metade dos custos da gasolina. Além disso, os custos do uso do etanol de milho variam: são no mínimo iguais aos da gasolina, podendo chegar até o dobro.

Para quantificar o impacto econômico dos biocombustíveis sobre o meio ambiente, os cientistas fizeram uma estimativa monetária dos custos para mitigação dos efeitos das emissões de gases de efeito estufa relativas à queima dos biocombustíveis e a todo seu ciclo de produção. Os parâmetros usados para essa quantificação se basearam em estimativas independentes de custo de mitigação de carbono, preços do mercado de carbono e custo social do carbono.

Para medir o impacto econômico na saúde, foram utilizadas as médias das despesas do sistema de saúde norte-americano com os impactos da exposição ao material particulado sobre a saúde.

O custo total da gasolina para a saúde e o meio ambiente é de US$ 0,71 por galão. O custo de uma quantidade equivalente de etanol de milho varia entre US$ 0,72 e US$ 1,45, dependendo da tecnologia usada na produção. A mesma quantidade de etanol celulósico gera custos de US$ 0,19 a US$ 0,32, dependendo da tecnologia e do tipo de material celulósico empregado.

"Esses custos não são pagos pelos produtores, nem pelos vendedores de gasolina e etanol. São custos pagos pelos consumidores", disse o coautor Stephen Polasky, professor do Departamento de Economia Aplicada da Universidade de Minnesota.

Os autores observaram poluentes emitidos em todos os estágios do ciclo de vida dos três tipos de combustíveis, incluindo a fase de produção e consumo. Eles avaliaram três métodos de produção do etanol de milho e quatro métodos de produção do etanol celulósico.

"Para se entender as consequências do uso de biocombustíveis sobre a saúde e o meio ambiente, temos que olhar muito além do escapamento dos automóveis e acompanhar detalhadamente a produção desses biocombustíveis. Ficou evidente que as emissões liberadas na produção do biocombustível realmente importam", declarou Hill.

O estudo também indica que outras vantagens potenciais dos biocombustíveis celulósicos – como a redução da quantidade de fertilizantes e pesticidas despejados em rios e lagos – também podem significar benefícios econômicos adicionais da transição para uma nova geração de biocombustíveis.

O artigo Climate change and health costs of air emissions from biofuels and gasoline, de Jason Hill e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

FONTE: Agência Fapesp

sexta-feira, 19 de março de 2010

Biocombustíveis: vantagens e desvantagens

Os biocombustíveis são fontes de energia renováveis, o que significa dizer que permitem a ciclagem da matéria na natureza. São obtidos a partir da cana-de-açúcar, do milho, de oleaginosas, resíduos agropecuários, dentre outras fontes.

Os biocombustíveis, como o biodiesel e o etanol (álcool etílico), têm aparecido com frequência na mídia como alternativas para contenção do aquecimento global. Isso acontece porque os biocombustíveis permitem uma ciclagem do gás carbônico (CO2), apontado como um dos vilões do aquecimento global.




Como se pode ver na figura, o CO2 eliminado pelo veículo é reutilizado pelas plantas para a produção de mais biomassa, através da fotossíntese.

Parte dessa matéria orgânica produzida é usada para a produção de mais biocombustível, com devolução de CO2 para a atmosfera. Dessa forma, o equilíbrio consumo-liberação de CO2 pode ser estabelecido e a concentração do CO2 pode estabilizar.

Com os combustíveis fósseis (gasolina, óleo diesel, carvão, gás natural) esse equilíbrio não acontece.

Entenda o porquê:

Petróleo foi formado há milhões de anos (período Carbonífero), provavelmente de restos de vida aquática animal acumulados no fundo de oceanos primitivos e cobertos por sedimentos. Com ação da alta pressão e temperatura, o material depositado sofreu uma grande quantidade reações químicas, originando massas viscosas, de coloração negra – as jazidas de petróleo. Quando queimado ocorre, então, liberação de CO2 que foi retirado da atmosfera do planeta há milhões de anos. Como não há nenhum mecanismo atual para capturar esse CO2 para produção de mais petróleo (que é considerado um recurso não renovável), o uso desses combustíveis acaba promovendo um aumento na concentração de CO2 na atmosfera. Como curiosidade, para cada 3,8 litros de gasolina queimados, 10 kg de CO2 são liberados para a atmosfera.

1. Vantagens de uso dos biocombustíveis

- Possibilita o fechamento do ciclo do carbono (CO2), contribuindo para a estabilização da concentração desse gás na atmosfera (isso contribui para frear o aquecimento global);

- No caso específico do Brasil, há grande área para cultivo de plantas que podem ser usadas para a produção de biocombustíveis;

- Geração de emprego e renda no campo (isso evita o inchaço das cidades);

- Menor investimento financeiro em pesquisas (as pesquisas de prospecção de petróleo são muito dispendiosas);

- O biodiesel substitui bem o óleo diesel sem necessidade de ajustes no motor;

- Redução do lixo no planeta (pode ser usado para produção de biocombustível);

- Manuseio e armazenamento mais seguros que os combustíveis fósseis.

2. Desvantagens do uso dos biocombustíveis

- Consome grande quantidade de energia para a produção;

- Aumento do consumo de água (para irrigação das culturas);

- Redução da biodiversidade;

- As culturas para produção de biocombustíveis consomem muitos fertilizantes nitrogenados, com liberação de óxidos de nitrogênio, que também são gases estufa;

- Devastação de áreas florestais (grandes consumidoras de CO2) para plantio das culturas envolvidas na produção dos biocombustíveis;

- Possibilidade de redução da produção de alimentos em detrimento do aumento da produção de biocombustíveis, o que pode contribuir para aumento da fome no mundo e o encarecimento dos alimentos;

- Contaminação de lençóis freáticos por nitritos e nitratos, provenientes de fertilizantes. A ingestão desses produtos causa problemas respiratórios, devido à produção de meta-hemoglobina (hemoglobina oxidada);

- A queima da cana libera grandes quantidades de gases nitrogenados, que retornam ao ambiente na forma de “chuva seca” de fertilizantes, segundo pesquisa do químico ambiental Arnaldo Cardoso e publicada na revista “Unesp Ciência, edição de fevereiro de 2010. Nos ambientes aquáticos, o efeito é muito rápido: proliferação de algas, com liberação de toxinas e consumo de quase todo oxigênio da água, o que provoca a morte de um grande número de espécies.

Crédito: Sandro Falsetti / 'Unesp Ciência' fevereiro de 2010, pág. 43.
Como se vê, os biocombustíveis não são a grande solução para o problema energético do mundo. É necessário repensar sobre o uso de outras formas alternativas de energia, como a eólica e a atômica (que vem ganhando força no mundo científico).

Fonte: http://www.vestibulandoweb.com.br/biologia/teoria/biocombustiveis.asp

quarta-feira, 10 de março de 2010

É possível produzir biocombustível sem afetar o cultivo de alimentos?

Organizações humanitárias dizem que faltará alimento se as terras férteis forem destinadas à produção de biocombustíveis. Especialistas canadense e australiano acreditam que há espaço para os dois e ainda para preservar o meio ambiente (Isis Nóbile Diniz)

Cortador colhe cana-de-açúcar, matéria prima para biocombustível

Segundo consultores, é possível plantar alimento, biocombustível e ainda preservar os biomas brasileiros

O Brasil tem terra suficiente para cultivar alimentos, plantar cana-de-açúcar para produzir biocombustível e, ao mesmo tempo, preservar seus seis biomas? O canadense Mark Lee, diretor da consultoria SustainAbility, e o australiano David Hone, representante do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, em inglês), acreditam que sim. A resposta foi dada em entrevista a ÉPOCA realizada durante o 3º Congresso Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável, em São Paulo.

Atualmente, pesquisadores e governantes discutem se o destino de terras férteis para a produção de biocombustível poderá interferir no cultivo de alimentos. Isso porque os biocombustíveis são feitos a partir de plantas, entre elas a cana-de-açúcar, o milho e a soja, que poderiam servir para consumo. Representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) dizem que o uso de terras para produzir biocombustíveis diminui a área destinada aos alimentos – o que poderia ocasionar falta de comida. Por outro lado, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) do Brasil afirma que os biocombustíveis não prejudicam a produção ou o abastecimento de alimentos.

Saiba mais: “Os biocombustíveis podem suprir 30% da demanda mundial no transporte”

Um dos pontos mais críticos da discussão é o alerta dos ambientalistas de que a demanda de terras para ambos os plantios destruirá o que resta das matas nativas. Uma pesquisa realizada pela ONG WWF prevê, em dez anos, o desmatamento de 10 milhões de hectares do cerrado para a produção de grãos e de cana-de-açúcar. Para se ter uma ideia da dimensão do desmatamento, os estados do Maranhão e do Piauí poderão sofrer uma perda de 30% da cobertura vegetal.

Os especialistas Hone e Lee acreditam que o debate tem uma solução. No lugar de grandes plantações contínuas de alimento ou de biocombustível, para eles, o ideal seria intercalar pequenas propriedades destinadas ao cultivo de alimentos, outras à plantação para biocombustíveis e as demais para a preservação dos biomas. "Não é uma questão simples", diz Lee. Requer estudos e análises. "O ser humano costuma fazer o que é mais fácil", afirma Hone.

Em paralelo à discussão, as empresas e alguns governos como o brasileiro continuam estimulando o uso de biocombustíveis. O especialista David Hone, além de representante do WBCSD, é consultor sobre mudanças climáticas da Shell. Ele diz que os biocombusíveis estão entre as duas principais linhas de pesquisa da empresa. "Esperamos ter sucesso nessa área", afirma. A outra frente de pesquisa é de sequestro de carbono. Trata-se de estocar o gás poluente em algum lugar, como no solo, para que ele não polua o ar. "Este caso é mais complicado. Para a empresa investir em novas tecnologias nessa área, o carbono deve ter um preço", afirma. Na Europa, quanto mais as empresas emitem de carbono em sua produção, maiores as taxas que pagam para o governo. Esse tipo de iniciativa precisaria se desenvolver.

De qualquer maneira, para os especialistas, o Brasil é privilegiado. Afinal, o país possui terras para o cultivo de alimentos, plantação de biocombustíveis e, ao mesmo tempo, tem espaço para preservar a natureza. O país poderia, então, ser um líder mundial relacionado à sustentabilidade? "O Brasil já está exportando tecnologia de biocombustível para veículos. Há, sim, oportunidades para o país liderar na questão da sustentabilidade", diz Hone. Mas Lee afirma que os países são competitivos. O fato de o Brasil exportar biocombustível e tecnologia "verde" não garante sua liderança no setor. "Estamos vivendo como se estivéssemos montando um quebra-cabeças. Não há resposta definitiva", diz Hone.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI86636-15223,00.html